"Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
(...)
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma covardia!
Não, são todos o Ideal, se os ouço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
(...)
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?"
Álvaro de Campos, Poema em Linha Recta
As duas ultimas estrofes dizem tudo. Estou mesmo farto de Hiper-Mega-Super-Heróis, que se acham capazes de calcar todos e/ou esperar e deixar o que têm para fazer, para tentarem ver os outros a cair, mas afinal acabam por ver os outros, o povinho, a passar por cima... e felizmente vêm-se obrigados a retirar com o rabinho no meio das pernas.
Será que é alguma vergonha ver alguém ser melhor que nós? Será mesmo alguma vergonha admitir que alguém é melhor do que nós? Será alguma vergonha cair, quando se arriscou tudo? Não para mim não é, é antes um motivo de orgulho, ter a consciência que tens alguém quem respeitas por ser melhor que tu, e acima de tudo veres que essa pessoa te respeita apesar de ser melhor... ou talvez melhor não seja a palavra correcta, talvez diferente.
Vergonha é ver quem espera por uma queda dos outros sem que nada faça para demonstrar algum respeito. Vergonha é acomodar-se ao saber dos outros e alimentar o seu ego com a ignorância do não querer saber e pensar que sabe. Vergonha é querer ser, o que realmente não são.
Vejo semideuses por tudo o que é lado, mas daqueles que disfarçam tão mal que mete nojo. É ver a falta de vergonha que esta gente tem, ser refletida no meu rosto quando me apercebo de certas coisas... eu tenho muita vergonha, mas tenho noção do que sou, não sou o melhor mas quero ser e faço por isso.
Faço por isso porque tento superar-me, não acomodar-me ao que sei e ir crescendo com as críticas, tento ser perfeito, embora saiba que tal é impossível, tento respeitar tudo e todos, seja pelo bem pelo mal, mas nunca ignorar.
Aborreço-me, fico triste e muito desiludido, a ver quem tão pouco sabe, fazer que sabe muito... eu sei alguma coisa, não sei muito, mas quero saber... realmente acho que vivo num mundo ilusório em que tenho muito pouca companhia.
Estou mesmo farto de semideuses.
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